Um dos maiores problemas para que a questão ambiental seja incorporada na vida das pessoas e das empresas é a falta do sentimento de pertencimento, de se sentir responsável. Quem ama cuida! Quando há amor, há sentimento de pertencimento. Não significa propriedade. Significa ser parte e se sentir parte. Com relação ao meio ambiente e aos seus cuidados, estes sentimentos são incipientes. Acredito que esta dificuldade se explique pela nossa pouca capacidade de pensar e agir coletivamente. Cuido daquilo que é meu, daquilo que me pertence com exclusividade. O coletivo não é visto também como sendo seu.
Para o coletivo, o sentimento é de usufruir, desfrutar. Desfrutamos dos parques, das matas, dos rios, das praias, das praças, porém os cuidados são, em geral, transferidos para os outros. Jogamos e deixamos lixo em qualquer lugar, não separamos resíduos, não nos preocupamos com a reciclagem, tampouco escolhemos produtos de menor impacto, desperdiçamos energia e água. Lidamos com os impactos ambientais como se a capacidade de recuperação do meio fosse infinita. Vemos os recursos naturais como sendo inesgotáveis. A transferência de responsabilidade para o outro é gritante em nossa sociedade. Empurrar com a barriga é a prática mais adotada, seja pelo poder público, pelas empresas, pelos fabricantes, pelo consumidor - por todos. Neste jogo de empurra perdemos todos, pois a saúde ambiental é decisiva para a saúde das pessoas e dos negócios.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, deu prazo de quatro anos para os municípios extinguirem os lixões. Estamos em 2019, a situação é exatamente contrária, cresce o número de lixões e o prazo será novamente prorrogado. Vivemos tempos de obscurantismo ambiental no país. Leis são questionadas e descumpridas com legitimação oficial. Duvida-se do aquecimento global e das mudanças climáticas ao ponto de descumprir acordos internacionais e questionar pesquisas científicas de alto nível. Há uma incitação contra os órgãos ambientais, os ambientalistas, os povos indígenas e os defensores de uma relação de paz no campo e nas cidades. O lucro justifica qualquer medida por mais bestial que seja, como desconsiderar a reserva legal. A reserva legal resguarda o manejo sustentável dentro dos limites legais de cada bioma. É essencial para a preservação da biodiversidade local, para a contenção do desmatamento e da pressão da agropecuária sobre as áreas de florestas e de vegetação nativa.
Desconsiderar a reserva legal é comprometer nascentes e os mananciais hídricos, é decretar a extinção de espécies, é desconsiderar que somos parte de um sistema vivo, no qual os impactos se propagam em todos os níveis, alterando o equilíbrio, essencial para a vida. É urgente que os brasileiros pensem no futuro e no seu comprometimento, unindo-se para frear os desmandos ambientais que, diariamente, avolumam os noticiários do país.